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nos primeiros anos de vida, vem reforçar
a necessidade de novas ideias, progra-
mas, serviços e soluções inovadoras para
alguns dos desafios mais complexos que
os pais, e a comunidade em geral, enfren-
tam. Contudo, devendo esses esforços
ser incentivados, por si só não são sufi-
cientes.
Os resultados da investigação nas ciên-
cias comportamentais e sociais e as
recentes descobertas em neurociência,
biologia e epigenética devem congregar-se
para ajudar a compreender como se pro-
cessa o desenvolvimento saudável, o que
pode compromete-lo e o que pode ser feito
para restaurá-lo.
Sabe-se já que factores como o investi-
mento cuidado (e assegurado) no relacio-
namento prestado por figuras parentais
responsáveis, estimulação precoce e
experiências positivas são pilares na cons-
trução de uma equilibrada arquitectura do
cérebro das crianças. Proporcionar, desde
cedo, os apoios certos para o desenvol-
vimento saudável das crianças produz
melhores resultados do que tentar corrigir
problemas mais tarde.
Contudo, a ciência, por mais interessante
que seja, não nos diz que tipos de servi-
ços e políticas são mais eficazes para
assegurar (ou restaurar) a trajetória de
desenvolvimento para crianças que enfren-
tam e crescem em ambiente de carência
(seja ela qual for).
Não obstante, é reconhecido que uma inter-
venção alicerçada em programas que forta-
leçam as competências parentais, dos Pro-
fessores e Educadores, dos prestadores de
cuidados à infância, bem como a promoção
de estratégias que estabeleçam metas cla-
ramente definidas e de apoio às famílias
– nomeadamente ao nível da habitação,
da protecção social, da saúde – podem
orientar a melhoria contínua na qualidade
de uma ampla gama de políticas e progra-
mas socioeconómicos. Os impactos dos
mesmos estão documentados e incluem
um nível de escolaridade mais elevado,
menor índice de gravidez na adolescência,
aumento da produtividade económica e
redução de comportamentos criminosos
(entre outros).
Podemos e devemos fazer melhor, parti-
cularmente no que concerne a crianças
nos três primeiros anos após o nasci-
mento. Acreditamos que as melhores
práticas devem ser um ponto de partida,
mas não são o destino final. E que o tra-
balho concertado entre diferentes sabe-
res e organismos pode estabelecer redes
de segurança para um melhor, mais trans-
parente e mais justo desenvolvimento. A
história ensina-nos que as maiores inova-
ções, muitas vezes, decorrem da conexão
de ideias já existentes em novas formas
de actuação.
A terminar, há que lembrar que a com-
preensão científica dos impactos das pri-
meiras experiências no cérebro em desen-
volvimento alertam para três factores
fundamentais:
• As primeiras experiências afetam a
vida física e a saúde mental, não ape-
nas aprendizagem;
• O desenvolvimento saudável do cére-
bro requer proteção ao stress exces-
sivo, não apenas enriquecimento
num meio ambiente estimulante;
• Alcançar resultados inovadores para
as crianças que enfrentam adversida-
des significativas exige que apoiemos
os adultos que cuidam delas, no sen-
tido de modificarem as suas próprias
vidas.
A possibilidade de progresso na nossa
capacidade de melhorar as perspectivas de
vida de todas as crianças é real. O tempo
para agir é agora - de forma realista e cons-
trutiva, honrando o dito “Superior Interesse
da Criança”, hoje em dia por tantos usado
em prol de outras audiências que não a de
uma comunidade que seja um lugar melhor
e mais feliz para todas as crianças. Um
mundo melhor faz-se construindo e não
criando o caos onde ele não existe. Con-
vidamos, pois, todos os que compartilham
este sentimento connosco, a juntarem-se
a nós nesta viagem pelo país da realidade
das crianças onde elas mesmas são as
maravilhas. Como? Ouvindo-as, respei-
tando-as e dando-lhes a mão para bem
crescerem.
“Meio século de pesquisas tem
demonstrado que serviços de primeira
infância eficazes são fundamentais
para garantir a salvaguarda das
crianças”